Queda no preço do leite e avanço das importações preocupam FAEG

A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) reuniu nesta quarta-feira, 5, produtores rurais, técnicos e autoridades do setor para discutir medidas emergenciais diante da crise enfrentada pela cadeia leiteira no Estado e no país. A principal preocupação é o impacto do aumento expressivo das importações de lácteos, associado à elevação dos custos de produção e ao consumo interno estagnado, fatores que pressionam a renda do produtor e ameaçam a sustentabilidade da atividade.

A reunião contou com a participação de representantes do governo estadual, técnicos de campo e parlamentares. Entre os encaminhamentos, ficou definida a intensificação da articulação com o governo federal para que sejam aplicadas sobretaxas às importações de leite e derivados da Argentina e do Uruguai, apontadas pelo setor como responsáveis por concorrência desleal no mercado brasileiro. Entre as soluções propostas pelo grupo está a suspensão das importações por até 90 dias ou até que o mercado interno estabilize.

De acordo com dados do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), o preço do leite pago ao produtor caiu 17% em um ano, passando de R$ 2,81 por litro em setembro de 2024 para R$ 2,34 em setembro de 2025. No mesmo período, os custos de produção subiram 4,4%. Em muitos casos, produtores recebem em torno de R$ 1,80 por litro, abaixo do custo médio estimado em R$ 2,30, o que torna a atividade inviável para centenas de famílias no campo.

Queda da rentabilidade

Segundo o gerente técnico do Grupo de Estudos Técnicos da Faeg (Getec), Edson Novaes, a queda de rentabilidade é resultado direto de um desequilíbrio de mercado provocado pelo avanço das importações. “Há uma oferta interna maior, custos elevados e consumo estagnado. Esse cenário, aliado à entrada massiva de produtos importados, causa forte pressão de baixa sobre os preços”, afirmou.

O executivo destacou que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já apresentou ao governo federal um processo que comprovou a prática de dumping por parte de indústrias argentinas e uruguaias, que estariam vendendo leite em pó ao Brasil abaixo do custo de produção em seus países. “O setor solicitou aplicação de sobretaxas, mas a decisão não foi acatada. Estamos trabalhando para que o governo reveja essa posição”, disse.

Brasil importa quase um Goiás

Os efeitos da ampliação das importações são significativos. Em setembro, o volume entrou no país aumentou 20% em relação ao mês anterior, saltando de 160 milhões para 192 milhões de litros equivalentes. Caso o ritmo seja mantido, o Brasil poderá encerrar 2025 com aproximadamente 2,3 bilhões de litros importados, volume próximo à produção anual de Goiás, estimada em 2,9 bilhões de litros.

Na avaliação do presidente da Comissão de Pecuária de Leite da Faeg, Vinicius Correia, o cenário exige medidas imediatas para evitar um colapso produtivo. “Se não houver equilíbrio nas importações, muitos produtores serão obrigados a reduzir rebanhos para pagar dívidas, o que, em poucos meses, pode gerar falta de leite e aumento expressivo no preço ao consumidor”, alertou.

Além da defesa de medidas antidumping, o setor discute estratégias estaduais para estimular a compra de produtos goianos por redes varejistas e atacadistas. A Faeg também propõe ações estruturantes de médio e longo prazo, como políticas de incentivo tecnológico, assistência técnica continuada e programas para ampliar o consumo de lácteos no país, incluindo destinação para programas sociais e merenda escolar.

Produtor relata rotina

O produtor rural Edelson José, de Mossâmedes (GO), relata que a rotina na atividade leiteira se deteriorou nos últimos meses em razão da combinação de queda do preço pago ao produtor e alta de custos. Segundo ele, a margem estreita “tem tornado quase impraticável” a continuidade da produção, sobretudo para pequenos pecuaristas. Edelson afirma acompanhar as articulações da Faeg e da CNA para retomada das medidas antidumping e sustenta que a entrada “descontrolada” de lácteos importados pressiona o mercado interno e afeta também as indústrias locais, ao deslocar a demanda por produtos mais baratos.

O produtor acrescenta que o setor estuda uma mobilização pacífica em Brasília para expor a realidade do campo e alertar para os efeitos sociais da crise. “Muita gente, principalmente o pequeno, está saindo da atividade; e, nas pequenas cidades, o leite movimenta grande parte da economia. Se nada for feito, podemos ter impacto sério na arrecadação municipal”, afirma. ( Jornal Opção )

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