Levantamento aponta que Goiás lidera casos de suicídio no Centro-Oeste
O estado de Goiás registrou 756 casos de suicídio em 2024, número que representa um aumento de 3,85% em relação a 2023, quando foram contabilizadas 728 ocorrências. Os dados constam no Mapa da Segurança Pública 2025, divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Com esse índice, Goiás se consolidou como o estado com mais registros no Centro-Oeste e ocupa a 9ª posição no ranking nacional. A região, no total, somou 1.665 casos, um crescimento de 10,19% em comparação ao ano anterior.
Entre os vizinhos, o Mato Grosso do Sul apresentou a maior alta proporcional, de 67,84%, enquanto o Mato Grosso registrou leve queda de 0,29%. No cenário nacional, houve uma redução de 1,44%, com 16.218 casos.
O avanço em Goiás acende um alerta em pleno Setembro Amarelo, campanha dedicada à conscientização e prevenção do suicídio. Para o psicólogo William Nascimento, o desafio vai muito além de ações simbólicas.
“Apesar de estarmos em 2025, ainda existem muitos tabus sobre saúde mental. A pandemia colocou o tema em evidência, mas também criou a ideia equivocada de que o sofrimento emocional pode ser resolvido de forma simples, o que é perigoso”, destacou. Segundo o especialista, muitas iniciativas durante o Setembro Amarelo acabam superficiais.
“Não basta oferecer um bombom ou dizer ‘estou aqui para o que precisar’ em setembro. Saúde mental não é sazonal, os desafios surgem em diferentes momentos do ano. É preciso criar espaços de acolhimento e escuta ativa, sem julgamentos, em todos os contextos, na família, no trabalho, na comunidade”, reforçou.
Lacunas na rede de apoio em Goiás
Apesar da ampliação de serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Nascimento observa desigualdade no alcance.
“Os serviços ainda estão muito concentrados nas grandes cidades. A população rural e periférica continua desassistida, e a falta de articulação entre saúde, educação e assistência social fragiliza a rede de apoio. Além disso, há carência de treinamento em saúde mental nas escolas e nos serviços públicos, o que dificulta a identificação precoce dos sinais de sofrimento”, avaliou.
O psicólogo enfatiza que o poder público tem responsabilidade na estrutura de atendimento, mas destaca que a prevenção também depende de círculos próximos de convivência.
“A família é o primeiro espaço de acolhimento. Ouvir sem julgar, encorajar a busca por terapia e estar presente já são atitudes que fazem diferença. A comunidade, por sua vez, pode ser uma extensão desse apoio, ajudando a romper o isolamento social e percebendo sinais que às vezes passam despercebidos pelos próprios familiares”, explicou.
Para ele, um dos pontos centrais da prevenção é reduzir o estigma. “Ao falarmos abertamente sobre saúde mental, reduzimos preconceitos e encorajamos as pessoas a buscarem ajuda antes que a situação se agrave. Mas é fundamental lembrar: amigos e familiares não substituem o papel do psicólogo. A terapia é indispensável”, concluiu. ( Jornal Opção )