Cerrado corre risco de extinção

Se o ritmo atual de desmatamento do Cerrado continuar, o bioma poderá ver até 2050 a maior extinção de plantas no mundo desde 1500. Cerca de 480 espécies endêmicas – que só ocorrem lá – devem desaparecer, se a vegetação continuar sendo derrubada para a expansão agropecuária.

O alerta foi feito por um grupo de pesquisadores brasileiros na edição deste mês da revista Nature Ecology and Evolution, publicada ontem, que traz também sugestões de políticas públicas para evitar a tragédia. Os autores lembram que a redução de 70% do desmatamento na Amazônia entre 2005 e 2013 foi acompanhada de uma mudança de foco do agronegócio.

Se na Amazônia políticas como a moratória da soja – que vetou o comércio do grão plantado em área desmatada ilegalmente – foram capazes de conter a perda da floresta para esse fim, foi para o Cerrado que o setor se virou. Entre 2002 e 2011, a taxa de perda do Cerrado foi 2,5 vezes mais alta que a da Amazônia. Só o Cerrado da Bahia, entre 2008 e 2013, perdeu 60% da área, dentro da expansão agrícola do chamado Matopiba (fronteira de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). No total, 46% do bioma sumiu e só 19 8% se mantém intocável.

A região é um hotspot de biodiversidade – ou seja, um local de rara riqueza e alta ameaça. Ali vivem 4,8 mil espécies de plantas e vertebrados endêmicas e estão três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul, gerando 43% das águas superficiais fora da Amazônia.

Os pesquisadores projetaram o que pode acontecer com essa riqueza se a taxa de desmatamento se mantiver, no que foi classificado como um cenário “sombrio”. Pelas projeções, de 31% a 34% do que ainda existe do Cerrado pode desaparecer até 2050, levando ao desaparecimento de cerca de 480 espécies de plantas, como o jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) e o babaçu (Attalea brasiliensis). “Isso é mais de três vezes todas as extinções de plantas documentadas desde 1500”, escrevem.

Sumindo as plantas, também podem desaparecer animais já ameaçados de extinção, como lobo-guará, onça parda, tatu-canastra, ariranha, tamanduá-bandeira, arara-azul e anta.

O efeito disso, explicam os autores, pode ser maléfico até mesmo para o agronegócio. Sem a vegetação, a produção das bacias hidrográficas pode ser comprometida. “A situação é realmente crítica”, disse ao Estado o biólogo Rafael Loyola, do Laboratório de Biogeografia da Conservação da Universidade Federal de Goiás. “É muito mais que só perder planta, é perder água, agravar crises hídricas como a que hoje atinge o Distrito Federal”, alerta.

Saídas

Os autores propõem que é possível evitar esse cenário e ainda permitir que o agronegócio continue se expandindo, se o uso dessas áreas for mais inteligente. De acordo com o trabalho, a pecuária utiliza, em média, apenas 35% da capacidade das pastagens que existem no bioma. Em um cenário de Cerrado Mais Verde, como eles apelidaram, seria possível crescer isso para 61%, o que liberaria a terra restante para a agricultura e ainda para fazer restauração de vegetação.

“Não estamos falando em nenhum momento para não expandir. Mas em vez de fazer isso em cima do Cerrado, piorando a crise hídrica e emitindo 8,5 milhões de toneladas de gás carbônico, dá para fazer com um uso de terra mais eficiente, que alie produção, conservação e restauração”, afirma Bernardo Strassburg, do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade, da PUC-Rio que liderou o estudo. “E se isso vier com uma restauração focada em áreas prioritárias será possível evitar 83% do quadro de extinção que se projeta.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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